"Não há limite seguro para exposição ao amianto." A declaração do diretor da ENSP, Hermano Castro, embasada pelo critério da Organização Mundial da Saúde (OMS) que recomenda a substituição do uso do amianto, sempre que possível, foi o tema da exposição O caso do amianto crisotila no Brasil, ocorrida durante o curso Saúde do Trabalhador sob uma Perspectiva de Saúde Ambiental, em 10/7. A atividade teve a participação do pesquisador Francisco Pedra, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP, e coordenação do médico especialista em Saúde Pública e Medicina do Trabalho René Mendes e da pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais Elizabeth Costa Dias.
Em diversos países, o amianto já foi proibido em todas as suas formas químicas e estruturais; outros restringiram sua utilização. Entretanto, no Brasil, a fibra tóxica continua a ser explorada e utilizada em grande escala. Segundo o diretor da ENSP, que, desde 1979, acompanha doentes pela exposição à fibra cancerígena, as empresas argumentam que apenas o amianto anfibólio – já banido no país – traz graves consequências à saúde, ao passo que o crisotila não possui tal característica.
“O amianto é considerado uma substância que apresenta comprovado potencial cancerígeno em quaisquer das suas formas ou em qualquer estágio de produção, transformação e uso”, assegurou Hermano. Segundo ele, de acordo com a OMS, a crisotila está relacionada a diversas formas de doença pulmonar (asbestose, câncer pulmonar e mesotelioma de pleura e peritônio), e não há limite seguro de exposição para o risco carcinogênico. “A OMS recomenda, complementarmente, que o uso do amianto seja substituído, sempre que possível, da mesma forma que a Organização Internacional do Trabalho já o fizera”, completou.
De acordo com o diretor, o amianto é considerado um problema de saúde pública. Ainda assim, é muito utilizado como matéria-prima na maioria das indústrias dos países de economia periférica, principalmente na produção de artefatos de cimento-amianto para a indústria da construção civil (telhas, caixas d’água, divisórias, painéis acústicos, forros e pisos etc.) e em outros setores e produtos, como guarnições de freios (lonas e pastilhas), juntas, gaxetas, revestimentos de discos de embreagem (no setor automotivo), tecidos, vestimentas especiais, pisos, tintas, revestimentos e isolamentos térmicos e acústicos, entre outros.
“Enfrentado a princípio como um problema do trabalho, relacionado exclusivamente aos trabalhadores expostos, o risco passou a ser entendido como um problema de saúde pública, em que a ameaça ultrapassa os limites da fábrica, atingindo a população indiscriminadamente. Nossa análise se concentra em torno do amianto e suas consequências na saúde e vida da população exposta.”
Após relatar casos de irresponsabilidade da indústria no país, Hermano citou o caso europeu. Nesse continente, de acordo com ele, a preocupação é com toda cadeia produtiva, independentemente do setor. “A embalagem de um frango exportado para a Europa traz o aviso de que o produto não contém amianto. Eles estão alertas até para a substância que compõe o telhado das granjas. Enquanto os europeus se preocupam com todas as etapas de produção, nós não conseguimos nem o banimento da fibra”, exemplificou.
Preocupação com as vítimas dos ataques de 11/9/2001
A mesma indústria que produz caixas d’água com a fibra alternativa, explicou Hermano, também produz telhas de amianto. No entanto, não foi a preocupação com a saúde das pessoas que modificou a forma de produção. “Houve um ajuste de mercado em relação à utilização do material nas caixas d’água, não pela preocupação com os danos à saúde, mas em função do peso e da cor, que acabam sendo mais um atrativo. Essas mesmas fábricas produzem telha de amianto. A substância está presente em 8% da composição de uma telha, sendo possível a substituição pelo polipropileno, por exemplo. Mas elas possuem um fornecedor da fibra cancerígena por mais de 60 anos, que são as minas”, concluiu o diretor.
O pesquisador do Cesteh Francisco Pedra questionou os argumentos fornecidos pela indústria do amianto para dar continuidade à produção. “Uma dessas justificativas afirma que a acusação contra a crisotila é apenas uma disputa de mercado, na qual utilizamos a estratégia do medo ao associar a fibra ao câncer. Isso não é verdade.”
O palestrante disse que 85% do amianto é empregado na construção civil e revelou preocupação com as vítimas dos ataques terroristas das torres gêmeas, em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, e com os trabalhadores desse ramo no país. “Temos uma alta rotatividade do trabalho na área da construção civil, e a latência das doenças atribuídas ao amianto é de 10 a 60 anos. Perguntar para um trabalhador se ele teve contato com a substância há mais de 50 anos é complicado. O mesotelioma é um indicador da exposição ao amianto.”
ENSP
Já foi proibido há muito tempo!
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