“Os motivos que levam o usuário
da Estratégia de Saúde da Família (ESF) a comparecer ou não às consultas
médicas programadas precisam ser conhecidos, em virtude do impacto negativo que
as faltas podem causar no serviço de saúde, inclusive de caráter financeiro, e
no cuidado do usuário.” Com esse objetivo, Mellina Marques Vieira
Izecksohn, aluna do mestrado profissional em Saúde Pública,
dedicou-se a uma pesquisa quanti-qualitativa para fundamentar sua
dissertação, que teve orientação da pesquisadora da UFRJ Jaqueline Teresinha
Ferreira. As técnicas do estudo consistiram na quantificação de faltosos
(48,9%) em duas equipes do Centro de Saúde Escola Manguinhos (RJ), num período
de seis meses, e de entrevista semiestruturada com 22 pacientes cadastrados na
ESF que faltaram ou não às consultas médicas agendadas. A aluna apresentou sua
dissertação no dia 18/9, na ENSP.
Segundo a aluna, foi identificado
um percentual de faltas de 48,9% no período de seis meses estudado, sendo que
dessas faltas, 58,5% das pessoas faltaram uma vez, 26,5% faltaram duas vezes e
15% faltaram mais de três vezes. “O principal motivo para agendamento das
consultas dos usuários foi o acompanhamento de sua saúde que pode ter diversas
interpretações por parte dos profissionais de saúde e dos pacientes”, disse.
Mellina explicou que, dentre os
motivos para as faltas às consultas citados pelos usuários, destacou-se o
esquecimento, assim como o agendamento em horários inoportunos, grande parte no
horário de trabalho. Alguns ruídos na comunicação dos usuários com a Unidade de
Saúde, acrescentou ela, também foram identificados, como a impossibilidade de cancelamento
do encontro sem que o mesmo compareça ao serviço. “O papel do agente
comunitário de saúde como a pessoa que agenda as consultas também é relevante,
contribuindo tanto para a assiduidade como para as faltas às consultas”,
destacou.
De acordo com ela, foi possível
identificar alguns aspectos relacionados à organização do serviço de saúde e a
características do usuário. “A ampliação das formas de comunicação da equipe
com os usuários, tendo em vista a ampliação do cuidado, um aprimoramento da escuta
e pactuação entre os atores no momento do agendamento considerando o cotidiano
dos usuários; uma maior flexibilização da equipe e de seus horários, bem como
um maior comprometimento por parte deles, a implantação de envio de mensagem de
texto são algumas propostas que surgem para melhorar a assiduidade às consultas
médicas” completou.
O cenário do estudo de Mellina
constitui-se no complexo de Manguinhos, situado na Zona Norte da cidade do Rio
de Janeiro, com cerca de 36.000 moradores, renda per capita de R$ 118,8624,
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,72624. Segundo o Instituto Pereira
Passos, essa região encontra-se na 122a colocação em relação ao IDH entre os
126 bairros do município. “A violência local, relacionada ao tráfico de drogas
e às frequentes incursões policiais faziam parte do cotidiano dos moradores da
região até a ocupação da área pela Polícia Militar, em 14 de outubro de 2012 e
a instalação da Unidade de Policia Pacificadora no início de 2013. O que se
configura, em 2013, é um clima de menos violência e de muita desconfiança, com
policiais militares circulando intensamente por todas as comunidades”, informou
Mellina.
A população abrangida pelo estudo
foi dividida em duas equipes. A equipe A é de 2.743 pessoas, das quais 14 são
gestantes e 811 tem menos de 18 anos, sendo a amostra de estudo composta por
1.917. Já a equipe B abrange uma comunidade com 2.624 usuários, sendo 681
menores de 18 anos e 17 gestantes, sendo a amostra de estudo de 1.927 pessoas.
Mellina Marques Vieira Izecksohn
é graduada em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(2005). Atualmente é médica de família e comunidade - Território Integrado de
Atenção à Saúde Manguinhos, preceptora de Residência Médica em Medicina de
Familia e Comunidade da Escola Nacional de Saúde Pública e preceptora de
residência médica e internato da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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